Por que celebrar a dedicação de uma igreja?

O que significa espiritualmente para nós, católicos, recordar a consagração de uma igreja? Se Deus “não habita em templos feitos por mão humana”, qual a necessidade de festas assim no calendário litúrgico?


Neste dia 9 de novembro, em que a Igreja celebra no mundo inteiro a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, o Ofício das Leituras propõe-nos à meditação um belíssimo texto, de autoria de São Cesário de Arles, do século VI.

Vai contida, nestas linhas, uma explicação espiritual bem sucinta do porquê de celebrarmos a dedicação de uma igreja. Para aqueles que acompanham há um tempo nossas homilias, não se trata propriamente de uma novidade. Ao celebrarmos a consagração de um templo, devemos lembrar-nos de que “nós é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus”. Ouvi-lo de um santo, porém, é sempre muito melhor.

Ouçamos, portanto, o que diz São Cesário: “Cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas”. Assim como é consagrada uma igreja, assim devemos ser consagrados, “separados” para Deus. Se tivéssemos essa verdade continuamente diante dos olhos, quantos pecados já não teríamos evitado! Com quanto zelo não cuidaríamos da saúde de nossas almas, templos que são do Espírito Santo!

Que essas palavras nos ajudem a não perdermos mais tempo e operem em nós uma verdadeira conversão.

Dos Sermões de São Cesário de Arles, bispo
(Sermo 229, 1-3: CCL 104, 905-908)

Pelo batismo fomos todos feitos templos de Deus

Celebramos hoje, irmãos diletos, com exultação jubilosa e com a bênção de Cristo, o natalício deste templo. Nós, porém, é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus. Todavia é com muita razão que os povos cristãos observam com fé a solenidade da Igreja-mãe, por quem reconhecem ter nascido espiritualmente. Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus; pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da sua misericórdia. O primeiro nascimento lançou-nos na morte; e o segundo, chamou-nos de novo à vida.

Todos nós, caríssimos, antes do batismo fomos templos do demônio; depois do batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus “não habita somente em construções de mão de homem” (At 17, 24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: “O templo de Deus, que sois vós, é santo” (1Cor 3, 17).

E já que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para si, quanto pudermos, esforcemo-nos com seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo. Como disse acima, antes que Cristo nos redimisse, éramos casa do diabo; depois foi-nos dado ser casa de Deus. Deus se dignou fazer de nós sua casa.

Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus. E falarei de modo que todos compreendam: cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas.

Queres ver bem limpa a basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: “E habitarei e andarei entre eles” (cf. Lv 26, 11.12).

Fonte: padrepauloricardo.org